15 de jul. de 2012


A gérbera branca se destaca
diante da forma que deixa para trás,
Se desprende de uma moldura 
rija, para se desbravar aonde não a 
prendem mais.
Assim sinto ao pensar no homem velho,
cuja forma ainda insiste em existir,
como a lembrar que o local ainda está posto
para o homem novo que, de ser novo,
um dia pensar em desistir.
As cores do fundo ganham uma vida 
própria para os meus olhos,
Talvez a artista não pensasse em homens
velhos e novos, e outros olhares vejam
significados diferentes do que pensei...
Mas, talvez ser artista seja algo assim:
inserir no mundo algo que ganha sentido no
mundo de cada um: o meio, 
o começo e alguns fins.
O novo se liberta do velho, e as pétalas
da gérbera se abrem para uma beleza, ainda
que efêmera, bela, e esperada por ser vivida.
O Velho continua presente, pelo menos
na moldura que formou, para que o Novo se 
lembre sempre, que daquele lugar fixo, é ele
que deve se manter ausente.

O quadro é de Elza Oliveira (no facebook, Elza Feola).

27 de mai. de 2012


Quantas vidas eu tive até aqui?
Quantas vezes perdi, chorei, sofri,
insistindo sempre nos mesmos erros,
ensaiando alguns acertos,
tropeçando nestes ensaios,
que por muito tempo me pareceram
estreias de monólogos, peças únicas
em cartaz...esquecendo as
reestreias,
as primaveras,
as solicitudes de quem desconfia
que erra e tateia no escuro
porque não quer ver a claridade,
porque diante dos gritos,
insiste em se fazer de surda...
Ser algoz
Ser violento
Ser indiferente
Ser vítima
Ser eu.....
E ter todos aqui,
diante de mim,
me olhando no espelho,
sussurrando, gritando,
pedindo, chorando,
ordenando, explicando,
“Lembre se de nós,
mas não se prenda a nossa voz,
continue de onde paramos,
e não repita as lamentações,
há tantos que nos amam,
há tantos que nos querem bem,
há tantos neste espelho,
de onde te vemos,
e você não nos vê...”
Há tantos aqui,
perto de mim,
acompanhando os dedos
escorregarem por essas teclas,
pedindo para que eu não
caia de joelhos,
mas que sinta a amorosidade,
as boas intuições,
a perseverança,
o amor que me acompanha...
todas as novas e boas ideias
que surgem para fazer desta vida,
de todas as próximas vidas,
algo que não fiz ainda.

Meu primeiro mico publicado - outros virão, com certeza....



Ontem, recebi o boleto da Marisa. Verifiquei que, além da minha parcela de R$ 47, havia outro débito de R$ 53. A princípio, estranhei, pois não me lembrava de ter feito nenhuma compra lá neste último mês. Dei uma olhada nas minhas roupas e não havia nada de novo...Peguei os boletos anteriores e conferi que as parcelas eram as mesmas. Reuni os boletos e comecei a me preparar para ir até a loja, e nada de encontrar o meu cartão da loja. “Pronto”, pensei, “será que perdi o cartão e alguém usou? Mas eles sempre pedem o RG, então, se usaram o meu cartão, a culpa é da loja, não vou pagar!”. Antes de sair, procurei me acalmar, me organizar para enfrentar a situação com serenidade e desejei encontrar um ou uma atendente que também fosse calmo e atencioso.
Lá chegando, fui logo atendida e expliquei a situação para um rapaz:
--- Boa tarde, preciso da sua ajuda. Recebi o boleto da loja e vi que aqui tem um valor de compra que eu não fiz. Eu deveria pagar somente R$ 47, como nos boletos anteriores – disponibilizei os boletos para o rapaz – e aqui consta esse outro valor e eu não sei do que se trata. Você poderia ver no sistema que compra foi feita com esse valor? Eu estou preocupada porque não sei do que se trata...
---Olha, não dá para saber por aqui (aponta para o computador) qual foi a compra feita, deixa eu ver isso aqui.
E o atendente passou a verificar os meus boletos, olhando um por um, e me respondeu:
---Você tem esse valor de R$ 53 no boleto deste mês porque o boleto do mês passado não foi pago...
"Ai meu Deus, Ai meu Deus, Ai meu Deus"
---Ah, não foi pago???
---Não.
---Ah, o boleto do mês anterior não foi pago....entendi. É por isso que eu tenho essa conta? - e eu penso em repetir a pergunta, pois não sabia onde enfiar a cara...
---Sim, é a cobrança anterior com juros.
---Ah, com juros - e meus olhos são só reticências - Entendi, bem, menos mal. É... Muito obrigada pela ajuda.
E saio da loja sem olhar para trás...
Moral da história:
1º Se eu tivesse adotado uma postura petulante, prepotente, do tipo “EU NÃO FIZ ESSA COMPRA, ALGUÉM USOU O MEU CARTÃO VOCÊS NÃO PEDIRAM O RG”, o meu tombo teria sido bem maior e muito dolorido.
2º É muito bom poder rir de mim, isso faz com que eu me lembre de que sou suscetível de erro, e que esse erro ganha a dimensão que eu dou a ele, é bom lembrar que sou humana. E é bom compartilhar meus “micos” com meus amigos. Rir junto é mais legal.


11 de abr. de 2012

Felicidades explícitas.

Precisamos mostrar ao mundo que estamos felizes... Noto isso quando vou a shows, quando estou dançando no meio da plateia ou quando fico na arquibancada só ouvindo a música. Precisamos mostrar que estamos nos divertindo, precisamos provar  que estamos bem, que não estamos na sala de casa vendo TV,  sozinhos num sábado a noite.
Podemos estar longe do palco, no meio da multidão,  mas ensaiamos um sorriso e o fixamos no flash da máquina digital ou do celular. Alongamos os braços para mostrar que “o mundo é nosso” naquele pedaço de diversão.  E, não fotografar, não registrar, deixar que o momento fique guardado somente na memória é como não estar lá, é como não ter como provar que se esteve lá e que se foi feliz.
Dos shows de uma noite às viagens de vários dias: as lembranças não são mais pessoais, não são mais somente nossas. O estar lá, em algum lugar, significa dizer que não estivemos somente aqui, no mundo que não dividimos com ninguém, no mundo das nossas quatro paredes.
Gostei de ver, num blog que não sei mais onde achar –eis o labirinto fornecido pelos links, a foto de uma louça suja na pia esperando pela água e pelo detergente, com a legenda dizendo mais ou menos assim: “restos de uma noite de amor”. Ah, que forma poética de descrever uma noite de amor, que forma poética de mostrar algo tão íntimo como uma louça suja, algo do seu espaço particular.
Eu, que sempre lavo minhas louças antes de receber minhas visitas – pois nossa sujeira é algo muito íntimo de ser mostrado – achei a ousadia algo cheio de idiossincrasia.
Também publico fotos de onde estive, do que vi por aí. Estou em falta com os shows, tenho que combinar com os amigos para tirarmos fotos retroativas, só sorrindo com os braços abertos, pois o cantor ou a banda não precisam aparecer, basta colocarmos a legenda com o texto implícito de nossa felicidade.
Mas, confesso que perdi algumas fotos num  computador bixado. Não tenho mais como partilhar alguns momentos de diversão, vulgo felicidade contemporânea.  Talvez, isso sirva como um bom exercício de solidão: esses momentos retornam só a mim.  Eu sei onde estive, e pior, eu sei se fui ou não feliz. (APSR)

6 de abr. de 2012

"...Ser João e Filomena..."
assim terminei o poema
que fiz em dupla com uma colega
que usava muletas,
e, que se destacava,
por não parecer se apoiar nelas...
Quantas vezes servi de muletas
para ouvir segredos alheios,
alheios a minha vontade de ouvi-los,
alheios a minha vontade de sabê-los,
interessada numa reciprocidade
que se esvaiu no tempo.
Rememoro todas as muletas que usei....
Pessoas cujos rastros não não vejo mais
Posturas que se perderam tempos atrás
Até livros marcados e riscados que já dei
Muletas e bengalas
Lentes e perucas
Bolsas grandes e sacolas de compras
Tantos artifícios para esconder
o que mais nem sei...
Ser João ou Filomena
ou ser um pouco parecida com essa colega
que tem muletas verdadeiras
para apoiar seus passos
mas não suas caminhadas.

2 de jun. de 2011

Passei outro dia
pela  Euclides da Cunha
e vi que ela não estava mais lá.
Fiquei parada, na calçada, pensando
se pedras, cimento, concreto,
caídos como folhas em vão,
também demolem lembranças.
E, no meu espanto de quem passa
sem tocar os pés no chão e
é surpreendida pelas pedras do caminho,
vi que você não estava mais lá...
A referência de um lugar especial
se perdeu pelas mãos de quem
não tem as minhas ilusões.
Sem lugar para olhar,
Sem suspiro para dar,
Sem degraus para sentar,
pois findas foram as escadas.
por APSR.